Braskem: disputa pela compra da companhia promete ser longa e lenta, com desfecho ainda incerto
13 Juni 2023 - 7:40PM
Newspaper
A proposta da Unipar pela compra da Braskem, que veio a público
no fim de semana, deflagrou o que promete ser uma longa e lenta
“bidding war”, com desfecho ainda bastante incerto. Especialistas
que acompanham as negociações veem muitos obstáculos a serem
superados pelos competidores que já se posicionaram na disputa –
além da produtora de PVC, já se colocou formalmente no páreo o
fundo americano Apollo junto com a petroleira estatal dos Emirados
Árabes Adnoc. Isso pode se traduzir em ajustes nas ofertas em
termos de preço e condições, mas também impedir um desfecho
favorável aos potenciais compradores.
Outro grande player que já manifestou interesse pela Braskem,
mas ainda sem apresentar uma oferta, é a J&F.
O valor oferecido pela Unipar animou o mercado porque configurou
um prêmio de aproximadamente 42% sobre o preço da ação da Braskem
(BOV:BRKM5). Mas, para fontes ouvidas pelo InfoMoney, parece um
passo muito grande para o porte da empresa. A Unipar informou estar
disposta a pagar pelos 38% do capital detidos pela Novonor
(ex-Odebrecht) R$ 36,5 por ação, o equivalente a R$ 10 bilhões, em
“cash”. Mas a conta pode ser muito mais alta.
Como os acionistas minoritários têm direito a tag along, direito
de venda dos papéis pelo mesmo valor oferecido ao controlador, a
empresa pode ter que desembolsar outros R$ 7 bilhões. Nessa
estrutura, a Petrobras (BOV:PETR3) (BOV:PETR4), permaneceria como
sócia na Braskem. Mas é bom lembrar que a petroleira tem direito de
preferência – ou seja, pode tanto vender sua participação como
comprar o ativo pelo mesmo preço acertado com o potencial
comprador.
A questão é que a Unipar (BOV:UNIP3) (BOV:UNIP5) (BOV:UNIP6)
tem, hoje, um caixa de cerca de R$ 1,4 bilhão, e uma dívida de
proporção equivalente. Ou seja, a compra da Braskem pressupõe o
endividamento da companhia, seja junto ao mercado de capitais, seja
junto a bancos. Em um momento de liquidez restrita e custo de
dinheiro muito elevado, trata-se de um desafio grande.
Vale lembrar que são justamente as maiores instituições
financeiras os credores Novonor, a quem cabe, em última instância,
a decisão do negócio. Isso porque a totalidade dos 38% do capital
total da Braskem detido pela Novonor foi dado como garantia de
dívidas contraídas entre 2014 e 2019 a cinco bancos – Itaú,
Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BNDES. Essa dívida está hoje
perto dos R$ 15 bilhões. Ou seja, de partida, o valor apresentado
pela Unipar exigiria um desconto (hair cut) por parte dos bancos de
R$ 5 bilhões.
Segundo fontes próximas à operação, essas instituições são hoje
os maiores interessados na venda da Braskem, justamente porque
querem receber esse dinheiro. A dívida vem sendo rolada há muitos
anos e, por ser atrelada ao CDI, já supera em muito o valor de
mercado da fatia detida por essas instituições, estimada em cerca
de R$ 8 bilhões.
Do lado do fundo americano Apollo e da Adnoc, o principal
obstáculo é a Petrobras, dona de 36% do capital da Braskem. A
oferta encaminhada pelo fundo prevê o pagamento de R$ 47 por ação
da Braskem, sendo R$ 20 em dinheiro, R$ 20 por meio da emissão de
um título perpétuo com taxa de 4% ao ano, e uma cláusula chamada
“warrant”, atrelada ao desempenho das ações.
A conta que analistas fazem para trazer esse preço a valor
presente varia, a depender dos parâmetros utilizados, o que torna a
comparação com a proposta da Unipar imprecisa. Mas é certo que
Apollo e Adnoc têm um bolso muito maior para dar conta do negócio.
O que complica a negociação é que a dupla não abre mão da
totalidade da Braskem, ou seja, a Petrobras precisa concordar em
vender sua parte. E o governo já deixou claro que não tem interesse
em vender ativos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visitou os Emirados
Árabes no início de seu mandato, o que pode ser um sinal favorável.
E, recentemente, uma grande comitiva, formada por representantes
tanto do fundo Apollo quanto da Adnoc visitou o Brasil e se reuniu
com os bancos credores e, dias depois, com o ministro da Fazenda,
Fernando Haddad. Nesses encontros, manifestaram o interesse em
investir tanto no setor petroquímico quanto em tecnologia. Um sinal
de que o negócio pode representar uma aproximação soberana entre os
dois países.
A questão é que há, ainda assim, uma resistência grande dentro
de alas do governo à venda de ativos por parte da Petrobras. A área
petroquímica está elencada como um dos focos dentro do plano
estratégico da estatal. E a Braskem tem o selo de “campeã nacional”
do setor petroquímico, o que reforça a resistência à venda.
Por fim, para todas as negociações, especialistas apontam a
dificuldade dos bancos credores em chegar a um consenso sobre o
valor justo do negócio como um complicador. No fim das contas, é
por causa desses bancos, que querem que a Novonor salde sua dívida,
que a Braskem está à venda. A questão é que todos os cinco credores
precisam estar satisfeitos com os termos do acordo para que ele
seja concretizado, e essa condição ainda não foi atingida. Ao que
parece, existe no grupo um desalinhamento de expectativas sobre o
que seria um bom negócio.
Informações Infomoney
UNIPAR PNA (BOV:UNIP5)
Historical Stock Chart
Von Nov 2024 bis Dez 2024
UNIPAR PNA (BOV:UNIP5)
Historical Stock Chart
Von Dez 2023 bis Dez 2024