Coronavírus eleva demanda por pães, massas e biscoitos; setor repassará alta do trigo
17 April 2020 - 1:54PM
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A indústria de pães, massas e biscoitos do Brasil prepara
reajustes de 12% a 30% em seu portfólio ao longo deste semestre,
para repassar o aumento de custos com o trigo, ao mesmo tempo em
que vê o consumo de seus produtos crescendo com os isolamentos
contra o coronavírus, disse à Reuters um representante do
setor.
A alta de preços pode até gerar uma desaceleração na demanda, em
um primeiro momento, admitiu o presidente-executivo da Abimapi,
Cláudio Zanão.
Mas ele destacou também que o setor está sendo beneficiado pelo
isolamento domiciliar, pois vende produtos que oferecem facilidades
aos consumidores, com a praticidade muitas vezes prevalecendo sobre
os custos na hora da decisão de compra.
“Nós crescemos em consumo, mas não podemos comemorar pela
situação que estamos enfrentando”, ponderou ele.
Zanão destacou que, em março, a indústria de pães, massas e
bolos industrializados registrou alta de 15% a 20% no volume
comercializado em relação ao igual período do ano anterior, no
momento em que parte da população temeu pela eventual escassez de
produtos por causa do isolamento.
“Macarrão é barato e um produto que sai ganhando quando a
população passa a comer dentro de casa. O pão de forma também tem a
demanda mantida porque as pessoas reduzem o deslocamento a
padarias… Não acredito em perda de volume (de vendas) no ano.”
Ele ainda garantiu que não há ausência no abastecimento destes
produtos para o comércio varejista.
A perspectiva de incremento na demanda desses industrializados
decorrente do isolamento favorece a companhia M. Dias Branco
(BOV:MDIA3), uma das maiores do setor no país, afirmou a Guide
Investimentos em relatório divulgado na quinta-feira.
O bom desempenho do setor trouxe confiança para a Abimapi prever
aumento de 3% a 5% nas vendas.
No ano passado, estes segmentos, juntos, movimentaram 36,7
bilhões de reais, 3,5% acima do valor alcançado no ano anterior, e
3,3 milhões de toneladas em volume de vendas, mesmo resultado
obtido em 2018, informou a Abimapi com base em dados coletados pela
consultoria Nielsen.
ALTA DO TRIGO
O aumento nas despesas com o trigo, matéria-prima da farinha
usada nesses produtos industrializados, ocorrerá na esteira da
valorização do câmbio ante o real, considerando que o Brasil
precisa importar o cereal para complementar a oferta local.
Zanão explicou que os reajustes de preços dos produtos do
portfólio ocorrem todos os anos, durante a entressafra do trigo,
mas em 2020 eles serão mais intensos por causa do patamar histórico
do dólar.
A moeda norte-americana fechou em alta de 0,27% na quinta-feira,
a 5,2565 reais na venda, registrando ganhos de mais de 30% em
2020.
“O repasse (de custos) deve ser iniciado a partir deste mês…
este aumento tende a ser gradual, pois não há espaço para elevar os
preços de uma só vez para o consumidor final”, disse Zanão.
Segundo ele, as indústrias estão com estoque de trigo e produto
acabado para cerca de dois a três meses, a depender do
fabricante.
Isso significa que os fabricantes precisarão do cereal importado
até meados de setembro, quando começa a colheita da safra
nacional.
“Saímos de um dólar de 4 reais em janeiro para 5,25 reais, uma
valorização de 31%. Das 11 milhões de toneladas de trigo consumidas
por ano no Brasil, cerca da metade vêm principalmente da Argentina,
este ano com 30% de aumento (de preço), em média”, estimou o
executivo.
Os preços do trigo no mercado brasileiro seguiram o preço do
produto importado, registrando alta no ano cerca de 30% no Paraná
(principal produtor brasileiro), oscilando perto de patamares
recordes nominais em torno de 1.150 reais por tonelada.
Segundo a associação, a farinha representa em torno de 70% do
custo das massas, 60% nos pães e bolos e 30% nos biscoitos.
“Sendo assim, qualquer variação no preço do trigo tem impacto
direto para os fabricantes.”
BALANÇO DE 2019
A indústria de biscoitos, que responde pela maior participação
no faturamento do setor, fechou o ano passado com receita de 18,7
bilhões de reais, aumento de 1,7% ante 2018, e vendas de 1,47
milhão de toneladas, retração de 1,08% em volume.
Em 2019, as indústrias de pães movimentaram um total de 7
bilhões de reais, com aumento de 4,5% na receita, resultante da
venda de 537 mil toneladas de produtos, com alta de 3,4%.
Já o mercado de bolos industrializados atingiu 1,1 bilhão de
reais em faturamento, 1,5% a mais se comparado com 2018.
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