As ações da Gol tiveram uma despedida “amarga” do Ibovespa na
sessão da última terça-feira (30) em meio ao pedido de recuperação
judicial nos EUA, acumulando baixa de 68% apenas em janeiro. Caso
os ativos permanecessem no índice até esta quarta (31), muito
provavelmente acumulariam a maior queda da carteira no fechamento
do mês, uma vez que Casas Bahia – a segunda maior desvalorização
até a véspera -, registra baixa acumulada de 33,22%.
Apenas na sessão do último dia 30 de janeiro, as ações da Gol
(BOV:GOLL4) fecharam com uma queda de 26,97%, a R$ 2,87, e um valor
de mercado de R$ 1,2 bilhão, seguindo uma baixa de 33,61% na
segunda. A aérea acumulou perdas de R$ 2,55 bilhões no ano de 2024
até 30 de janeiro, com uma desvalorização de R$ 444 milhões apenas
no último dia, conforme aponta levantamento de Einar Rivero,
diretor da Elos Ayta Consultoria.
Desde que a Gol pediu a recuperação judicial nos EUA (Chapter
11), na última quinta-feira (25) e após muitas especulações sobre o
tema, a queda das ações é de 56,84%, com as baixas especialmente
concentradas nas duas últimas sessões, em meio a avaliações sobre
como as medidas a serem adotadas durante o processo podem afetar os
acionistas e também com o anúncio da B3 de excluir os papéis da
aérea de todos os seus índices.
Na última segunda, o Tribunal de Falências do Distrito Sul de
Nova York aprovou o acesso provisório da empresa à parte (US$ 350
milhões) do Debtor in Possesion (DIP) de US$ 950 milhões
comprometido por determinados detentores de títulos da Abra.
Contudo, o juiz responsável pelo caso, Martin Glenn, manifestou
preocupação com o elevado custo do financiamento. Os advogados da
aérea afirmaram que um quarto (25%) do financiamento poderia ser
absorvido por taxas bancárias e custos relacionados.
A empresa também publicou informações financeiras preliminares e
não auditadas do 4T23 no contexto dos procedimentos do Chapter 11,
reportando uma queda de 15% no ativo circulante no trimestre, para
R$ 3 bilhões, e no ativo não circulante, um aumento de 1% no
trimestre, para R$ 13,8 bilhões. O passivo circulante da GOL caiu
9%, para R$ 10 bilhões, enquanto o passivo não circulante aumentou
26%, para R$ 10 bilhões (ambos líquidos de dívida). A dívida
permaneceu em R$ 20,2 bilhões.
Na visão do Bradesco BBI, os US$ 350 milhões em recursos
iniciais do financiamento DIP podem ajudar a liquidez e a
continuidade das operações da empresa no curto prazo, mas a um
custo alto.
No fim da semana passada os analistas do banco rebaixaram a
recomendação das ações GOLL4 para equivalente à venda e reduziram o
preço-alvo em 90%, para R$ 1 por papel, em meio a preocupações
sobre a diluição dos acionistas durante o processo, uma preocupação
que também foi destacada pelo BB Investimentos ao cortar a
recomendação do papel também para a venda nesta semana, mas com
preço-alvo de R$ 2,40.
Antes da Justiça americana aprovar o pedido de RJ da aérea, o
BBI afirmou que, “com ou sem o ‘Chapter 11’, todos os cenários
levam a uma enorme diluição do capital”.
Victor Mizusaki e equipe ponderaram no relatório do BBI que a
reestruturação de passivos de aproximadamente R$ 25 bilhões
provavelmente eliminará os acionistas minoritários devido à
conversão de US$ 2,3 bilhões de dívida em ações.
Os analistas disseram que chegaram a esse valor somando os US$
950 milhões do financiamento DIP, US$ 1,2 bilhão relacionados aos
títulos de dívida ESSN de 2028 e US$ 100 milhões de dólares em
passivos de arrendamento de aeronaves.
O BB Investimentos (BB-BI), por sua vez, estimou uma diluição
acima de 60% devido ao processo de reestruturação financeira,
citando a possibilidade de que parte da dívida seja convertida em
ações. O controlador da Gol, o Abra Group, possui cerca de US$ 1,2
bilhão em títulos de dívida.
“Em um cenário base em que o controlador realize tal conversão,
estimamos um fator de diluição acima de 60% para os acionistas
correntes […] Por isso, acreditamos que a relação risco/retorno
neste momento é desfavorável ao investidor e, para evitar
destruição de valor, sugerimos a saída do papel”, apontou o
analista Luan Calimério, que assina o relatório do BB-BI.
Para o analista, o pedido de proteção no Chapter 11 da justiça
americana tem razão objetiva, uma vez que as condições para
continuidade das operações e para a recuperação são,
historicamente, mais favoráveis no processo americano do que no
brasileiro.
“De modo geral, há maior preservação dos ativos essenciais às
atividades da companhia (no caso da Gol, as aeronaves), o que
proporcionaria manutenção da oferta de voos e maior probabilidade
de geração de caixa para futura saída do processo”, citou.
Contudo, a visão de que isso virá a um alto custo aos acionistas
se mantém: enquanto o BB-BI vê ainda uma queda de 16% dos ativos em
relação ao seu preço-alvo de R$ 2,40, o Bradesco BBI vê uma baixa
ainda maior, de 65%, para chegar ao seu target de R$ 1, mesmo após
a derrocada das ações. Isso, associado à saída da empresa dos
índices da B3 fazem com que as ações iniciem o mês de fevereiro
praticamente no limbo após um janeiro bastante difícil para os
acionistas da aérea.
Informações Bloomberg e Reuters
GOL PN (BOV:GOLL4)
Historical Stock Chart
Von Apr 2024 bis Mai 2024
GOL PN (BOV:GOLL4)
Historical Stock Chart
Von Mai 2023 bis Mai 2024